Maria do Jasmim


− De graça, alegria e suor vêm o som dos tambores. Buscando a paz que o corpo não cessa de pedir aos meus pés, passos de esperança buscam alternativas as dores que são minhas e de mais ninguém. Da poeira do chão brota sempre alento aos que ali ajoelham, entre gritos, chicotes e esporos, o cansaço quase desmonta o corpo e a existência. Foi assim que vivi, entre os murmúrios dos muitos que me procuravam tentando entender. Aos tantos e muitos, levei o que pude, mas a mim quase nada foi oferecido. Só muito depois, já quando as forças iam esvaindo do corpo foi que vi: o meu quinhão era mesmo secar o pranto do outro, sem derramar o que tinha em demasiado. 

“Viver trazendo alento foi a maior experiencia que podia viver. Nova chance foi me dada, voltei, mas com a cor da pele mais atinada a claridade. Aos poucos, desde menina, fui nas ervas verdes de pai Oxóssi, aprendendo a transformar as dores em cura como instrumento de paz. Agora aos que procuravam, era preciso além de dar peixe ensinar a pescar. Cada folha de galho precisava ser, pela mão do sofrido, macerada. A mim cabia só os benzimentos e orientações. Era hora de todos crescerem e eu precisava ir para frente da aldeia. Em noite de luar, me tornei ali, diante dos filhos e tantos outros caboclos, aquela que por vivência trazia da mata as palavras do alto.” 

“E assim foi, muitas vezes aos trancos, que a aldeia sobreviveu, atacada muitas vezes, destruída quase sempre, dilacerada pela ignorância do desconhecido do direito a luz e providência. Em todas as vezes, conseguimos levantar as taperas, retomar os instrumentos e cada vez mais firmes na fé. Sempre, no batuque dos tambores, todos limpavam a alma, as dores e os anseios. Sempre naquele chão por vezes coberto de lágrimas e sangue, os joelhos dobravam e entregavam o que tinham de melhor, sob a luz das toras e cheiro do jasmim.” 

“Aí vai a vocês um tanto da história da velha aqui, as tristezas das feridas deixa para outra hora. Vamos nos alegrar ao falar sempre de luz, de graça e do sorriso que surge ao tocar dos tambores.”

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