"O que menos importa aqui é quem eu sou."

− Sendo realmente quem sou expresso aqui a minha satisfação em poder falarmos abertamente, sem as amarras que os ritos religiosos nos fazem ter. Muitos de vocês esperavam por este momento e uma onda de expectativas e gasto de energias desnecessários foram feitos, porém se eu decepcioná-los não peço desculpas, pois quem criou expectativas além daquilo que realmente sou que viva com elas. Pois estas não são de responsabilidade minha, afinal criar expectativas encima de outro, seja ele espírito ou não, é como tentar controlar o vento e prendê-lo em uma garrafa: mais cedo ou mais tarde, por algum motivo, ele escapará e sairá do seu controle. 

“Fico admirado como vocês querem controlar tudo (e porque não dizer todos?), vocês esquecem que o tempo que está no controle e que assim como não se pode controlar o tempo, vocês não podem controlar tudo, não é mesmo? Ou pensam que antes de chegar aqui no degrau que estou hoje, tudo saiu exatamente como planejado? Haaaaa se assim fosse eu não estaria nem aqui! Seria como muitos imaginam: um anjo de belas asas, sentado ao lado do Pai, vendo sua criação evoluir ou decair aos domínios de Lúcifer, mas não, não sou e não pretendo ser este tipo de espírito − Que diga-se de passagem: existem e, mesmo que vocês não acreditem, eles estão por aí. ”

“Difícil saber, do lado de cá o que não existe? Mas uma coisa eu digo: vocês fantasiam demasiadamente e isso prejudica no raciocínio lógico de vocês. Não vivi um conto encantado (ou de fada como vocês chamam), mas vivo e vivi uma realidade além daquela que vocês chamariam de normal ou realista, apesar de vocês não terem maturidade espiritual e psicológica para esta tal realidade. Os poucos espíritos, além do filho do homem, que tiveram parcialmente este tipo de realidade sucumbiram à loucura e o pouco que produziram para a humanidade, seja pelo bem ou pelo que vocês chamam de mal e eu de necessário, marcaram a humanidade. ”

“Eis que sinto a ansiedade de todos que vão ler estas linhas para saber meu nome e peço que se isto acontecer volte a primeira letra e recomece, pois o que menos importa aqui é quem eu sou, já que por este mesmo motivo não estou sempre entre vocês. Não suporto o burburinho e pessoas puxando meu saco porque subi no degrau de Exu Chefe de uma Casa, de uma Falange, pois tudo que conquistei aqui foi com muito esforço, lágrimas e sangue. Paguei preços que não gostei, outros ainda trago no meu coração e nem mesmo assim, comigo guardando e protegendo, me compreendem. Dentro de si, além do sentimento de saudade dos tempos que andávamos de mãos dadas, trazem o medo. O medo do meu poder, do meu conhecimento e o do quanto usei isso contra quem atravessasse meu caminho, que hoje é iluminado pelos raios de Iansã, mas antes apenas cheios de escuridão. Usei mal meus talentos, sim, igual da parábola. Multipliquei eles com a maldade e o desespero e sim, fui lançado não ao inferno, porque este sim é agradável, água com açúcar perto das tormentas que enfrentei... ”

“Lá vamos nós viajar em uma dessas tormentas: como todos vocês sabem em algumas e não digo só em uma, mas em algumas das minhas passagens pela Terra fui um mago, feiticeiro, bruxo, charlatão ou como vocês chamam hoje: médium. E ao deixar o corpo em uma dessas vidas fui levado a uma ordem do mal, não posso negar que isso inflou meu ego, pois eu gostava de fazer isso. Mas pobre de mim, fui apenas um experimento da maldade e logo meus generais perceberam que minha ganancia me criava ilusões, quais ilusões eram estas? A de derrubar os meus superiores e assim me tornar o chefe. Criei uma rebelião, porém aqueles que se diziam amigos tramavam um plano diabólico, se assim posso chamar, com os generais da escuridão: fui acusado de traição e levado as profundezas. Por anos espadas foram colocadas em cada centímetro do meu corpo, eu não sentava, não deitava, apenas ficava acorrentado em pé como um porco espinho. Meu perispírito sofreu todo tipo de atrocidade possível, quantas noites eu pedi a segunda morte e Ele não me ouvia.... Até que um dia cavaleiros de armadura com lanças e espadas douradas invadiram meu cárcere, fui resgatado. Passei por várias cirurgias, fui levado a especialistas e quando cheguei a porta de Aruanda recebi um tratamento que dura até hoje. ” 

“Me transformei em Exu Ventania para que, como o tempo e o vento, mudasse de formas constantemente e assim curasse meu perispírito que ainda está desgastado. Hoje não me canso de trabalhar na mudança daqueles que me procuram e me chamam, pois a mudança daqueles que ajudei a cair é e será meus degraus a subir... ”

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